sábado, 16 de fevereiro de 2008

Enigmas

Acordei me sentindo delicada. E sentindo a delicada fúria de estar viva e de ser humana. E quanto de sangue e de medo existe nisso... e o quanto de desejo de apreender o equívoco existe nisso. E o que não se pode dominar com palavras, e que escapa pelos intervalos de tempo entre o que sou e o que penso, e a intangibilidade das coisas que sinto... tudo isso existe no querer decifrar a vida.
Acordei decifrando enigmas.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Do voyerismo

Assumir que assisto Big Brother é quase tão ruim quanto declarar que chuto a bunda de gente idosa. Mas que posso fazer se meu lado voyer me trai a cada instante? A cada edição desta merda eu me prometo abrir um livro em vez de assistir ao programa, mas não consigo. OK, não sou viciada, não deixo de ir na balada pra assistir, não morro se perder um paredão, mas se estou em casa, papo pro ar comendo pipoca, não me furto ao prazer irresístivel de bisbilhotar a vida alheia, só pra descobrir que é tão simples quanto a minha. E eleger, claro, meus favoritos... quase sempre esta eleição está ligada a critérios pouco nobres (na verdade quem escolhe são meus hormônios, como acontece com quase tudo na vida). Nesta edição, estou encantada por um cara que se parece um pouco com alguém de quem tenho saudade. Quero que o cara ganhe um milhão, quero que ele seja rico, mas pelo simples prazer de assistí-lo até o final e assim pensar que monitoro indiretamente a vida desta pessoa do meu passado. Era ele quem me dizia que não há relação sem troca de alguma espécie, que sempre se busca vantagem pessoal no convívio com as pessoas. Procuro me lembrar das vantagens pessoais que obtive com ele... são tantas, mas tão sutis que não conseguiria listá-las. Acho que era o prazer da conversa, a surpresa do toque que quase nunca acontecia, e depois a saudade do cheiro que durante tanto tempo tive sempre por perto. Acho que era o prazer de vê-lo surpreso com algum gesto meu, e os gostos e ambições parecidos que tinhamos pra vida... E os discos, os milhares de discos, que alimentavam nosso papo e nossa gula, que faziam uma garrafa de cerveja virar dez, que me faziam aos poucos perceber que o que une duas pessoas é a tal da afinidade que é motivo de eliminação naquele tal programa, e que é também critério de eliminação na minha vida. Não fui agraciada com o dom de admirar a burrice. E por isso insisto tanto na pergunta: quando é que eu vou achar de novo um cara que me hipnotise tanto quanto ele, e que eu possa ter comigo pela vida afora sem ter que tomá-lo a força de ninguém?

it's meet the man of my dreams, and then meet his beautiful wife... isn't it ironic?

Irônico pensar que todas as qualidades que eu pedi num cara eu achei reunidas em um que é bundão e se casou com outra, sem amá-la. E o aspecto bundão não estava previsto nos meus planos. Isso nos mostra que os acordo, mesmo com o intangível Deus, não podem dar margem a distorções e notas de rodapé.

Vou ficar com o otimismo daquela música da Orquestra Imperial que diz assim: é bom ficar desimportante pra alguém que eu já encantei...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O filho

O filho esperado no ventre da mãe prematura (filho que não nasceu ainda e que aguarda-se em semente pelo tempo que resta), o filho deveria partir de um homem X, ansiado desde o nascer desta mãe e por ela encontrado, finalmente, após anos de solidão e desejo. O filho esperado, deste pai encontrado e querido, aguarda no tempo etéreo do sonho pelo seu desabrochar em flor.
A futura mãe, sequiosa de seu rebento, não dorme mais a noite. Às noites, irriqueita, ela corre a mão sobre a barriga lisa e magra, oca, e deseja com todas as suas forças chegar o dia em o menino eleito explodirá como um cometa de dentro do ventre grávido.
Eis que cinco ou seis palavras, saídas da boca do pai (o homem encontrado, querido) serão suficientes para fazer crescer dentro dela, mãe, o ponto de interrogação retumbante, colossal, imensurável...
Cinco ou seis palavras fazem nascer depressa o filho, antes mesmo da concepção.
Cinco ou seis palavras fazem morrer depressa o sonho, antes mesmo da consagração.
(E o poema acaba aqui, com o mistério suspenso)

Estes putos viciados

tenho raiva deles. Pegue uma Amy Winehouse, por exemplo: uma cantora talentosa, promissora, e auto-destrutiva. Pegue uma Britney Spears: beleza, fama, dinheiro, Sandy dos EUA, e auto-destrutiva. Não tenho raiva deles porque querem se matar e blá-blá-blá - o que neles me irrita é o espelho das minhas contradições, vejo-me neles. Estes putos estão se fodendo para construir carreira, família, patrimônio... estão vivendo no foda-se bem apertado, esfregando na nossa cara o aval que nós lhes demos para ser assim, para vestirem a armadura do "gênio incompreendido". E que fazemos se não acompanhar com sagacidade o seu "down hill" pessoal? E gozar com isso, e amar isso, e se vislumbrar vivendo isso, dessa maneira espalhafatosa e galharda... E me odeio quando me pego pensando se esta não seria a maneira mais agradável de viver... "Sociedade dos Poetas Mortos" é um filme (ótimo, por sinal) sobre a importância de gozar o agora - mas se esse agora tolhe o seu amanhã, reduz a experiência de vida a nada, ele é valido? E se a prudência do amanhã limita sua capacidade de saborear o hoje e perder-se nele, este caminho é mais doce?
Fico novamente com o Whitman (muito oportunamente parafraseado a todo instante no filme citado): "... De que vale tudo isso, oh eu, oh vida? Resposta: que você está aqui. Que a vida e a identidade existem. Que o poderoso jogo continua e você pode contribuir com um verso".

Salta

... e o cara se mudou pra Salta. Depois de semanas procurando a passagem aérea perfeita, o albergue perfeito, o roteiro de turista perfeito, a lingerie perfeita, O CARA MUDOU PRA SALTA. Salta: cidade da província de Buenos Aires. E eu indo pra Buenos Aires pra te ver, Alejandro, e você me prepara uma dessas. MAGOEI, seu puto viadinho.
Ok, entendo e fico feliz também, por você, entretanto R$1.500,00 serão gastos em parte inultimente. Deveriamos nos ver e terminar o que começamos em 06/2007. Deveriamos nos ver e você deveria me deixar louca e apaixonada, e deveria tocar cítara para mim, conforme prometido, e eu veria o jardim que você cuidou que crescesse dentro do seu apartamento, e eu deveria meter você dentro de mim de uma maneira muito menos óbvia, muito mais subjetiva. Tudo isso pra ver se esqueço outro idiota que povoa meus sonhos....
Agora também você ficou no sonho... e na vontade!

Tio Walt

O Tio Walt (Whitman) é mesmo muito foda... esta frase dele eu adoro:

"o meu brado bárbaro ecoa pelo telhados do mundo"

De esbravejar

De cuspir, de escarrar, de arrotar impropérios, de gritar pelos telhados do mundo, de dizer merda, de mandar às favas, de chutar a bunda, de mandar pro inferno, de rogar praga, de tagarelar tolices, de mentir, de zangar, de vingar, de fugir, de tremer e temer, de gostar e gozar, de desassossegar, de tirar o sono, de fazer dormir de tédio, de espantar o tédio, de matar passarinho, de encher o saco, de encher linguiça, de esbravejar e esbravejar e esbravejar...